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Relatório: Políticas globais dos bancos são ‘perigosamente inadequadas’ para prevenir o financiamento do desmatamento, o caos climático e abusos de direitos humanos

Enquanto as crises climática e da biodiversidade foram intensificadas, o crédito para empresas de commodities com risco florestal aumentou 160% entre 2020 e 2021.  

Um novo relatório divulgado hoje pela Forests & Finance Coalition — Rainforest Action Network, Profundo, TuK Indonesia, Bank Track, Amazon Watch, Repórter Brasil, Sahabat Alam Malaysia e Amigos da Terra EUA — conclui que nenhum dos maiores bancos e investidores nos setores de alto risco (agricultura, silvicultura e outros usos da terra) tem políticas ambientais, sociais e de governança (conhecidas como ESG, na sigla em inglês) suficientemente adequadas. A Forests & Finance hospeda uma plataforma de transparência incomparável que revela os fluxos financeiros para as maiores empresas de commodities com risco florestal do mundo que operam em regiões de florestas tropicais. O extenso conjunto de dados pesquisável acaba de ser atualizado para incluir crédito, títulos de dívida e participações a partir de setembro de 2022. 

Isso significa que o dinheiro continua fluindo para as empresas de commodities com risco florestal em grande parte sem restrições. Desde que o Acordo de Paris foi assinado, os bancos injetaram 267 bilhões de dólares em empresas de commodities com risco florestal e, em setembro de 2022, os investidores detinham 40 bilhões de dólares em títulos e ações em commodities com risco florestal. 

“Agora está bem estabelecido que as crises de mudança climática e perda de biodiversidade representam uma ameaça de escala planetária e geracional. Entretanto, as instituições financeiras do mundo estão, na verdade, aumentando seus empréstimos para os setores que têm levado a humanidade à beira do abismo”, disse Tom Picken, Diretor de Campanha Florestal e Financeira da Rainforest Action Network e membro fundador da Forests & Finance Coalition. “Esta última avaliação mostra como os grandes bancos e investidores institucionais estão cegos para a urgência do momento, e como as políticas do setor financeiro continuam perigosamente inadequadas. Com o setor de agricultura, silvicultura e uso da terra contribuindo com 23% das emissões globais de carbono, resta bastante claro que devemos revisar as regras que regem as decisões de bancos e investidores se quisermos atender às emergências globais de clima, biodiversidade e direitos que estamos enfrentando”.  

O novo estudo dos 200 dos maiores bancos e investidores em commodities globais com risco florestal em regiões de florestas tropicais levanta sérias preocupações. De maneira geral, a pontuação média foi de apenas 1,6 em uma escala que vai até 10, e uma porcentagem alarmante (59%) das instituições financeiras pontuaram abaixo de 1, indicando uma falha abjeta na gestão e mitigação de riscos ambientais, sociais ou de governança. Apenas três instituições financeiras pontuaram 7 ou mais, o que ainda deixa muito espaço para melhorias e não reflete a urgência com que o mundo deve lidar com as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. 

O resumo do estudo destaca o papel do financiamento para dois setores particularmente destrutivos para as florestas: o setor de papel e celulose no sudeste da Ásia e o setor de carne bovina na Amazônia. A indústria de celulose do sudeste asiático pode estar ligada a mais de 170 mil hectares de desmatamento nos últimos anos. Todavia, desde o Acordo de Paris, o setor atraiu 23,6 milhões de dólares em crédito. Os cinco maiores bancos que financiaram as divisões de celulose da Royal Golden Eagle e da Sinar Mas no Sudeste Asiático entre 2016 e setembro de 2022 foram: Bank Rakyat Indonesia (4,3 bilhões de dólares), Bank Mandiri (2,7 bilhões de dólares), Bank Central Asia (2,5 bilhões de dólares), Bank Negara Indonesia (1,4 bilhões de dólares) e o britânico Barclays (2 bilhões de dólares). A pontuação média para as políticas de papel e celulose desses bancos foi de apenas 1,3 na escala que vai até 10.

O setor de carne bovina é o maior impulsionador do desmatamento na Amazônia. Apesar de nenhum frigorífico garantir que produz sem desmatamento, os bancos continuam injetando dinheiro no setor. Os maiores bancos que financiaram as gigantes da carne bovina do Brasil (JBS, Marfrig e Minerva) entre 2016 e setembro de 2022 foram: Bradesco (1 bilhão de dólares), Santander (774 milhões de dólares), HSBC (746 milhões de dólares), Banco do Brasil (723 milhões de dólares) e BTG Pactual (648 milhões de dólares). Esses grupos também receberam investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) no valor de 566 milhões de dólares e mais: 60 milhões de dólares do Vanguard, 55 milhões de dólares do Algemeen Burgerlijk Pensioenfonds – ABP 46 milhões de dólares da BlackRock. A pontuação média dessas instituições financeiras em suas políticas de carne bovina foi de apenas 1 na escala que vai até 10. 

A avaliação deste ano da Forests & Finance dos maiores bancos e investidores mostra que a maioria não tem políticas para prevenir o desmatamento, a degradação de turfa, os incêndios ou defender os direitos humanos, incluindo o consentimento livre, prévio e informado para povos indígenas e comunidades locais, ou para prevenir o trabalho forçado ou infantil. As políticas são míseras e ficam bem abaixo do mínimo necessário para oferecer proteção. Os reguladores precisam acordar e parar de terceirizar o ritmo e a escala da ação climática para as instituições financeiras que lucram com a destruição. 

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