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Bancos investiram mais de US$ 150 bilhões em empresas do setor de commodities ligadas a desmatamento em florestas tropicais

Nova base de dados revela os fluxos financeiros para mais de 300 das maiores empresas do setor commodities com risco de desmatamento. Financiamento para essas commodities aumentou 40% desde o Acordo de Paris. Banco do Brasil é, de longe, o maior credor dessas empresas no Brasil

São Francisco/Jacarta/Amsterdã/Tóquio/São Paulo, 1º de setembro de 2020 –  Em meio a uma temporada de incêndios florestais tropicais que parece ser mais devastadora do que a de 2019, uma base de dados inédita lançada hoje revela que, desde 2015, bancos globais direcionaram US$ 154 bilhões em financiamentos para a produção e comércio de commodities de empresas que impulsionaram o desmatamento e a degradação florestal nas três principais regiões de florestas tropicais — Sudeste Asiático, Brasil e África Central e Ocidental. No geral, o financiamento para essas commodities aumentou 40% desde que o Acordo de Paris foi assinado, em dezembro 2015. Em abril deste ano, os investidores também detinham US$ 37 bilhões em títulos e ações dessas empresas.

Lançada pela Forests and Finance, uma iniciativa da Coalizão Florestas e Finanças que inclui as organizações Rainforest Action Network (RAN), TuK INDONESIA, Profundo, Repórter Brasil, Amazon Watch e BankTrack, a base de dados mapeia os fluxos financeiros [1] entre janeiro de 2013 e abril de 2020 para mais de 300 das maiores empresas do setor commodities com risco de desmatamento cujas operações estão contribuindo para a destruição das florestas tropicais.

No Brasil, o Banco do Brasil é, de longe, o maior credor de empresas com risco de desmatamento, tendo fornecido US$ 30 bilhões a elas desde 2016, especialmente para as indústrias de carne bovina e soja. Já entre os cinco maiores credores do Brasil estão o Bradesco, com US$ 7,5 bilhões; o holandês Rabobank, com US$ 5,4 bilhões; o norte-americano JPMorgan Chase, com US$ 5,2 bilhões; e o espanhol Santander, com US$ 4,5 bilhões.

Apenas 15 bancos [2] são responsáveis por, aproximadamente, 60% dos 154 bilhões de dólares em financiamento concedido a empresas com risco de desmatamento desde a assinatura do Acordo do Clima de Paris. Oito desses bancos são signatários dos Princípios para Responsabilidade Bancária da ONU, que inclui o compromisso de alinhar as operações bancárias com o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo o ODS 15 para “interromper o desmatamento [e] restaurar florestas degradadas” até 2020. Em termos de origem dos financiamentos, os bancos do Brasil, China, Indonésia, Malásia, Estados Unidos e Japão representaram os maiores fluxos de financiamento. Essas descobertas ilustram a falta de regulamentações e políticas das empresas e que são necessárias para alinhar o setor financeiro com as prioridades ambientais e sociais globais.

“Neste momento, fogos feitos intencionalmente estão queimando as últimas florestas tropicais remanescentes do mundo. Trata-se de uma ação ‘barata’ para limpar territórios já desmatados para a produção de commodities. Bancos globais e investidores estão conscientemente financiando as gigantes do agronegócio, produtoras desses commodities, que estão justamente alimentando os fogos”, disse Merel van der Mark, coordenadora da Coalizão Florestas e Finanças. “Apesar dos compromissos do setor financeiro com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris, sua busca por lucros está nos levando a um desastre climático e de saúde pública.”

O desmatamento em florestas tropicais quase dobrou nos últimos dez anos apesar de vários compromissos multilaterais e da indústria com o desmatamento zero. Em 2019, atingiu 11,9 milhões de hectares. As florestas estão sendo desmatadas principalmente para produção de commodities do agronegócio, conhecidas coletivamente como as commodities com risco de desmatamento – são elas carne bovina, óleo de palma, papel e celulose, borracha, soja e madeira – muitas vezes ilegalmente e com fortes laços com a corrupção, evasão fiscal e crime organizado. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o desmatamento e a perda associada de habitat da vida selvagem também são fatores críticos no surgimento de doenças zoonóticas, como a covid-19. Financiamento e investimento são fundamentais para a expansão e o dia-a-dia das empresas responsáveis pelo desmatamento.

“Os povos indígenas da Amazônia estão enfrentando uma tragédia sem precedentes de uma temporada de queimadas enquanto sofrem os efeitos da pandemia da Covid-19”, afirma Christian Poirier, da Amazon Watch. “A Amazônia registrou no início do mês de agosto o maior número de incêndios florestais em uma década, enquanto que os territórios indígenas tiveram um aumento de 77% de queimadas desde o ano passado. São resultados diretos do desmatamento e de incêndios criminosos alimentados por commodities e financiados por bancos globais. Esta base de dados expõe de forma inequívoca a cumplicidade de investidores e desses grande bancos neste desastre.”

“Os bancos e investidores que fazem negócios na Indonésia estão ignorando o desmatamento, a destruição de turfa e as violações dos direitos humanos causados por seus clientes e não estão divulgando estes impactos dos seus financiamentos ao público. As empresas por trás da fumaça mortal anual ainda estão obtendo financiamento na casa dos bilhões de dólares, com muito pouco escrutínio. Isso é inaceitável e precisa mudar”, disse Edi Sutrisno, da TuK INDONÉSIA.

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