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Novo relatório expõe como bancos globais ainda estão apostando no colapso da biodiversidade

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São Paulo, Brasil – 5 de novembro de 2025

Coalizão internacional Florestas & Finanças pede regulamentação financeira para acabar com o desmatamento

Enquanto líderes mundiais se reúnem no Brasil antes da COP30, um novo relatório da coalizão Florestas & Finanças revela que grandes bancos e investidores globais injetaram mais de US$ 429 bilhões em empresas que promovem o desmatamento tropical desde o Acordo de Paris — incluindo US$ 72 bilhões apenas nos últimos 18 meses. Na análise da Florestas & Finanças, os cinco bancos que mais alocaram crédito aos setores de risco de desmatamento são todos brasileiros: Banco do Brasil, Sicredi, Bradesco, Itaú Unibanco, Caixa Econômica Federal. 

Intitulado Financiando o Colapso da Biodiversidade, o relatório será lançado hoje no evento paralelo do Princípios para o Investimento Responsável (UNPRI, na sigla em inglês) da ONU, em São Paulo. O documento oferece a avaliação mais completa até o momento das instituições financeiras que contribuem para a danificação da biodiversidade e as violações dos direitos indígenas relacionadas a commodities que representam risco para as florestas, como óleo de palma, soja, carne bovina e papel e celulose.

Os resultados mostram que, mesmo depois de uma década de compromissos voluntários e alianças para atingir emissões líquidas zero, o financiamento prejudicial continuou a aumentar — com metade dos 30 maiores bancos do mundo aumentando sua exposição a setores ligados ao desmatamento desde 2016.

“As promessas voluntárias falharam — é hora de tornar ilegais os financiamentos destrutivos”, disse Steph Dowlen, responsável pela campanha pelas florestas na Rainforest Action Network, membro da coalizão. “Nossos dados mostram que, embora os bancos falem sobre sustentabilidade, seu dinheiro continua queimando as florestas do mundo. Os governos devem intervir com regras vinculantes que tornem ilegal lucrar com o desmatamento e os abusos de direitos humanos.”

As principais conclusões incluem:

  • Desde 2016, os bancos forneceram US$ 429 bilhões em crédito para empresas que atuam com commodities de risco de desmatamento, o que representa um aumento de 35% no período.
  • Os investidores detêm US$ 42 bilhões em ações e títulos de 191 empresas com risco de desmatamento — lideradas pela Permodalan Nasional Berhad (US$ 3,8 bilhões), pelo Fundo de Previdência dos Funcionários (US$ 3,5 bilhões) e pela Vanguard (US$ 3,4 bilhões).
  • Alguns bancos aumentaram exponencialmente seus empréstimos de risco de desmatamento — incluindo o Scotiabank (+717%) e o Banco do Nordeste do Brasil (+295%).
  • De modo geral, os investimentos em empresas ligadas a commodities de risco de desmatamento aumentaram em 7,8 bilhões de dólares em comparação com a linha de base do quarto trimestre de 2015. No entanto, os investimentos no setor de carne bovina, na verdade, caíram, com os investidores retirando US$ 2,4 bilhões em relação à mesma linha de base até o quarto trimestre de 2025.

De fato, o crédito privado tem crescido e se aproximado do volume de crédito subsidiado pelo governo destinado à atividade rural. Para o ciclo 2025/2026, o governo destinou R$ 516,2 bilhões ao Plano Safra. Já no mercado privado, o estoque de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), ou seja, o conjunto de títulos em circulação, já havia superado R$ 140 bilhões em agosto de 2025, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

A coalizão pede aos governos que fechem a “lacuna de responsabilização”, tornando a proteção da biodiversidade e dos direitos humanos um elemento central da regulação financeira. As recomendações incluem: devida diligência obrigatória sobre o risco de desmatamento, penalidades financeiras para empréstimos de alto risco, divulgação transparente de carteiras e responsabilidade legal por danos ambientais e sociais.

“Esta década de autorregulação foi uma escolha política — não uma falha técnica”, conclui o relatório. “Se quisermos cumprir o Acordo de Paris e o Marco Global de Biodiversidade, os governos devem passar de promessas no papel para regras aplicáveis.”