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Nova política do BNP Paribas para soja e carne bovina é um passo positivo, mas carece de urgência

man in soy field

Na semana passada, o banco BNP Paribas anunciou uma nova política de combate ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado. No comunicado, o banco se comprometeu a não mais financiar clientes que produzam ou comprem carne ou soja de terras desmatadas ou convertidas na Amazônia após 2008. O BNP Paribas também irá “encorajar” seus clientes a não produzir ou comprar carne ou soja de terras desmatadas ou convertidas no Cerrado após 1 de janeiro de 2020. Além disso, exigirá total rastreabilidade na cadeia de fornecedores (diretos e indiretos) nos setores de carne bovina e soja, até 2025.

Embora o compromisso com a Amazônia seja um passo positivo, o banco precisa fazer mais para acabar com o financiamento do desmatamento e conversão de terras.

“É com contentamento que recebemos a notícia de que o BNP Paribas afirma que vai parar de financiar empresas que produzem ou compram carne bovina ou soja cultivadas em terras desmatadas ou convertidas depois de 2008 na Amazônia. No entanto, é preciso reforçar que diante da crise climática que estamos enfrentando e a ameaça que o desmatamento crescente no Brasil representa, as medidas apresentadas são insuficientes para conter o devastador problema que estamos vivendo na Amazônia e Cerrado brasileiro”, disse a Sonia Guajajara, Coordenadora Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)*.

“A maioria dessas grandes commodities, além de destruir o meio ambiente, interferem diretamente no  modo de vida tradicional dos povos indígenas e ainda promovem mão de obra barata ou mesmo prática de trabalho escravo”, disse a Sonia. “Ao garantir a rastreabilidade dos impactos, esses fatores também precisam ser considerados. Uma mudança verdadeira da política significa também respeitar os territórios tradicionais indígenas ignorados pelo governo.”

“Grande parte do desmatamento que ocorre no Cerrado se deve ao deslocamento da produção de soja da Amazônia para o Cerrado, em decorrência de preocupações ambientais com a produção de commodities na Amazônia, principalmente após a Moratória da Soja. No entanto, o Cerrado é um bioma vital que também possui uma biodiversidade de valor inestimável e, portanto, deve ser igualmente incluído na exclusão do financiamento a clientes que cultivam, processam ou comercializam carne bovina e soja em terras desmatadas ou convertidas na região” disse Marília Monteiro, do Banktrack.

“Se o BNP Paribas estiver realmente comprometido em deter o desmatamento nesses biomas críticos, o banco deve interromper imediatamente o financiamento para empresas que já violaram compromissos de Desmatamento ou Conversão Zero, até que possam demonstrar que estão realmente dispostos e capazes de produzir carne e soja sem desmatamento ”, disse Moira Birss, Diretora de Clima e Finanças da Amazon Watch.

“Uma política de desmatamento zero não vale de nada se não houver rastreabilidade total na cadeia de suprimentos”, disse Merel van der Mark, da Forests & Finance. “Ao exigir rastreabilidade total para soja e carne apenas em 2025, o BNP continuará financiando o desmatamento por mais cinco anos.”

Veja também a nota da APIB sobre a nova política do BNP Paribas