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A Taxonomia Sustentável do Brasil abre caminho para o Greenwashing

O versão da Taxonomia Brasileira Sustentável atualmente em consulta pública, apresenta falhas significativas que comprometerão sua eficácia. Entre as principais críticas estão a falta de adicionalidade ambiental, a seleção de setores com base em critérios econômicos em vez de critérios ambientais, e a ausência de indicadores claros e de critérios sociais essenciais. Além disso, a metodologia complexa e a falta de clareza nos requisitos criam um ambiente propício para o greenwashing. Este texto analisa as lacunas no caderno sobre CNAE A – Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Pesca e Aqüicultura.
Foco em práticas, em vez de impactos
A taxonomia brasileira sustentável se baseia na implementação de práticas, em vez de focar na medição dos impactos reais dessas práticas. Essa abordagem focada em intenções mas não em resultado, não garante nenhum impacto real no mundo. Menos ainda, considerando que muitas práticas descritas como sustentáveis na taxonomia claramente não são sustentáveis. Por exemplo, o uso de agrotóxicos e a geração de energia a partir de biomassa.
Foco em critérios específicos de setor, em vez de critérios transversais
A taxonomia foca em uma algumas commodities e estabelece critérios para específicos elas, em vez de estabelecer critérios transversais. Isso limita a eficácia da taxonomia e reduz sua aplicação. A falta de uma abordagem integrada, que aborde de forma holística a diversidade de impactos socioambientais, resulta em um framework que não promove a transformação sistêmica necessária para a sustentabilidade.
Escopo restrito a 9 commodities
A taxonomia cobre apenas 9 commodities: soja, milho, gado, café, cacau, eucalipto, pirarucu, tilápia e tambaqui, além da restauração com espécies nativas.
Essa pequena seleção de setores, dominadas em grande parte pelo agronegócio, inclui a produção de gado, soja, milho e eucalipto — que são responsáveis por alguns dos maiores danos ambientais, climáticos e sociais no país.
A sua inclusão na taxonomia poderia se justificar se fossem associados a critérios rigorosos de sustentabilidade. Mas o que observamos é um conjunto de critérios que frequentemente consistem basicamente no cumprimento de requisitos legais mínimos.
Metodologia complexa
A metodologia utilizada para determinar se uma atividade pode ser classificada como sustentável é excessivamente complexa e, ao mesmo tempo, vaga. O requisito de atender aos requisitos mínimos, implementar três itens elegíveis da abordagem transversal, juntamente com medidas adicionais relacionadas a objetivos transversais, sem uma explicação clara dos critérios para cada um desses requisitos, causa confusão. Ainda mais problemático é a falta de transparência quanto às consequências do não cumprimento das medidas, uma lacuna que enfraquece a credibilidade do sistema.
Difícil de verificar
Essa complexidade desnecessária, combinada com a falta de clareza nos requisitos, resulta em uma taxonomia com uma lógica interna difícil de entender e, consequentemente, difícil de aplicar de forma eficaz. A falta de interoperabilidade com outros padrões e sistemas internacionais também levanta sérias questões sobre a utilidade da taxonomia no contexto global de políticas ambientais.
Falta de indicadores e métricas claras
Em relação à definição e verificação de práticas sustentáveis, há uma preocupante ausência de indicadores claros e metodologias, falta de métricas mensuráveis, critérios de qualidade bem definidos e valores aceitáveis para cada prática. Isso impede a avaliação objetiva da sustentabilidade de uma atividade e abre um precedente perigoso para o greenwashing, onde atividades que não geram benefícios ambientais reais podem ser promovidas como “sustentáveis.”
Risco de Greenwashing
O maior risco, no entanto, reside no fato de que a falta de adicionalidade ambiental, combinada com métricas fracas e requisitos ambíguos, torna extremamente difícil verificar se os investimentos em atividades classificadas como “sustentáveis” realmente oferecem benefícios ambientais tangíveis. Esse cenário não apenas enfraquece o potencial da taxonomia, mas também abre a porta para práticas de greenwashing, que podem minar a confiança pública e internacional nas iniciativas ambientais brasileiras.
Você pode baixar a contribuição completa da Coalizão Florestas & Finanças abaixo: