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A expansão da indústria de celulose no cerrado pode causar mais fogos, falta de água, e mudanças climáticas, diz novo Relatório do EPN

Um novo relatório publicado hoje pelo Environmental Paper Network revela os impactos causados pela massiva expansão da indústria de papel e celulose no Mato Grosso do Sul, no Cerrado.

A produção de celulose na região de Três Lagoas, no extremo leste do Mato Grosso do Sul, explodiu de zero para mais de sete milhões de toneladas por ano em uma década. Há planos de dobrar a produção novamente nos próximos anos. Duas grandes fábricas de celulose já estão operando e mais quatro foram anunciadas.

Para alimentar as fábricas de celulose, mais de um milhão de hectares de plantações industriais de eucalipto foram estabelecidas na região. Isso corresponde a uma área maior que a Jamaica. Á medida que a capacidade de produção das fábricas aumentar, a área plantada deve dobrar nos próximos anos.

O relatório investigativo divulgado hoje, Queimando a Terra, é resultado de dois anos de pesquisa de campo na região de Três Lagoas. Documenta como nascentes, lagoas e córregos desapareceram na medida que as plantações de eucalipto se expandiram. Os incêndios florestais também se tornaram um problema frequente na área, coincidindo com o amadurecimento das plantações.

A pesquisa também investigou os impactos nas comunidades locais, que estão sendo progressivamente expulsas de seus tterrórios. Para aqueles que encontram trabalho na indústria, as condições de trabalho costumam ser precárias e insalubres. A indústria de papel e celulose é alvo de um número excepcionalmente alto de casos de violação da legislação trabalhista.

Sergio Baffoni, da Environmental Paper Network, disse: “Embora a conversão de pastagens em plantações muitas vezes seja vito como uma forma de recuperação do solo, não é bem isso o que está acontecendo. A indústria de celulose está empurrando a pecuária para regiões onde ainda há terras disponíveis, que muitas vezes se encontram na Amazônia e no Pantanal.”

“Nas terras adquiridas, os remanescentes da vegetação nativa do Cerrado são eliminados cirurgicamente, e todo o sistema de abastecimento de água do continente está em risco”, completa Baffoni.

A expansão da celulose e do papel está sendo alimentada por uma demanda global crescente de celulose, impulsionada principalmente pelo comércio eletrônico e por um sistema de distribuição ineficiente: mais da metade dos produtos globais de papel acabam em embalagens destinadas ao descarte. A Suzano, maior produtora mundial de celulose de mercado, acaba de solicitar ao International Finance Corporation (braço do Banco Mundial) um financiamento de US$ 900 milhões para uma das fábricas que está sendo construída na região.

Na sexta-feira passada, dia 9, quarenta organizações da sociedade civil brasileira e internacional enviaram uma carta conjunta ao IFC, pedindo que não aprovem o empréstimo na reunião do conselho, que será realizada no dia 15 de dezembro.

“O dinheiro público não deve ser usado para apoiar uma grande corporação cujos impactos no terreno são claramente negativos”, acrescentou Merel van der Mark, da Forest & Finance, um dos co-signatários da carta.

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