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O TNFD lança seu arquebouço final em meio de receios por greenwashing

Hoje, o Grupo de Trabalho para Divulgações Financeiras Relacionadas com a Natureza (TNFD em inglês) lançou o seu arquebouçco final sobre como as empresas devem reportar sobre a biodiversidade. O grupo de trabalho é composto por empresas globais – incluindo várias que enfrentam acusações persistentes de abusos ambientais e de direitos humanos.
Ao longo dos últimos 18 meses, uma série de organizações socioambientais levantaram preocupações persistentes sobre a TNFD – incluindo o facto de esta não ter conseguido responder às preocupações específicas de que o seu quadro facilitará o greenwashing empresarial. Veja mais sobre essas preocupações aqui. Existe uma preocupação particular com o fato de alguns grupos quererem que o TNFD se torne lei – essencialmente, isso permiteria que as empresas escrevam as regras que as regulem.

“É horrível ver como o processo do TNFD se desenrolou. No fundo, o processo centrou-se em empoderar as empresas globais – incluindo os membros do Grupo de Trabalho empresarial, que estão falhando ao não agir relativamente aos danos socioambientais causados pelas suas próprias empresas. Nada no quadro da TNFD desafia o direito de uma empresa de ficar com 100% dos lucros que possa obter provenientes de abusos ambientais ou de direitos humanos. Nem defende o direito de existência da natureza. Está cheio de lacunas que podem permitir uma lavagem verde desenfreada. O TNFD prescreve um model de relatório com pouco detalhe ou transparência, o que significa que as reivindicações das empresas não poderão ser verificadas com a realidade no terreno.” – Shona Hawkes, Conselheira, Rainforest Action Network

“A melhor maneira para criar movimento no mercado em relação à biodiversidade, é pressionando por leis que proporcionem consequências reais para as empresas que estão destruindo a natureza. Não é nada muito complicado. Todo o exercício da TNFD tem sido um circo que nos distrai deste facto muito simples.” – Merel van der Mark, Coordenador da Coalizão Florestas & Finanças.

“A nossa mensagem aos funcionários governamentais, aos bancos centrais e às empresas genuinamente éticas é: por favor, não se deixem destrair pela TNFD, e não deixem de tomar as ações que realmente precisamos para salvaguardar a biodiversidade e os direitos humanos. O TNFD não tem mandato de defensores ambientais, de Povos Indígenas, de organizações de mulheres da linha da frente ou de grupos de base. Para resolver a crise da biodiversidade, precisamos de amplificar as vozes daqueles que mais fizeram para proteger e celebrar a natureza – não precisaoms de arquebouçs escritos pelas empresas, que permitem uma lavagem verde desenfreada.” – Tarcísio Feitosa – Vencedor do Prêmio Goldman 2006 – Florestas – América do Sul e Central – Brasil

“Não discordamos da TNFD de que o sistema financeiro e o comportamento empresarial são uma parte fundamental da crise da biodiversidade e da extinção. No entanto, resolver esse problema requer uma abordagem e regulamentação baseadas em evidências. Não é necessário investir dezenas de milhões de dólares numa iniciativa cujo principal órgão de decisão é um grupo de empresas globais – incluindo muitas com um historial ambiental muito problemático.” – Lim Li Ching, Coordenador, Programa de Biodiversidade, Rede do Terceiro Mundo

“Foram os povos indígenas, as comunidades afrodescendentes, os camponeses, as organizações de mulheres e os movimentos juvenis que lideraram o esforço para defender, celebrar e valorizar a biodiversidade. No entanto, eles foram completamente excluídos deste processo de todas as maneiras possíveis. Muitas pessoas ficam chocadas ao saber que o grupo de trabalho do TNFD – o órgão de tomada de decisão do TNFD – é composto exclusivamente por corporações globais.” – Kwami Kpondzo, Coordenador da Campanha das Indústrias Extrativas, Turismo e Infraestrutura da Coalizão Florestal Global

“As verdadeiras soluções para as crises de biodiversidade e de extinção devem basear-se nos direitos. Devem basear-se nas leis internacionais de direitos humanos e indígenas e respeitar o direito de existência da própria natureza. O TNFD não se alinha com estes pilares críticos.” – Osprey Orielle Lake, Diretora Executiva da Women’s Earth and Climate Action Network

“É difícil recordar qualquer caso importante de abuso de direitos humanos ou destruição ambiental que tenha sido exposto pelas denúncias das próprias empresas. São as comunidades negativamente afetadas que têm de soar os alarmes e expor as irregularidades corporativas. O TNFD não faz nada para corrigir isso. Não só a lógica do TNFD é falha – o quadro nem sequer ajuda os povos indígenas e as comunidades locais com direitos consuetudinários de posse a saberem que empresa está a operar, a comprar ou a financiar atividades nas suas terras e territórios.” – Oda Almas, Coordenadora do Programa Finanças Responsáveis, Programa Povos Florestais

“Temos um período incrivelmente curto para agir nas crises de biodiversidade e extinção. Os Povos Indígenas, os jovens, os grupos de mulheres, os povos afrodescendentes e os camponeses continuarão a defender e a liderar as verdadeiras soluções para a crise da biodiversidade. O TNFD é apenas a mais recente de uma sucessão de iniciativas lideradas por empresas que repetem um padrão familiar: aborda a biodiversidade como um activo económico, acrescentando-lhe um valor monetário e quantificando-a em termos de mercado como stocks de “capital natural”. Negligencia o valor intrínseco que tem para a subsistência de todas as pessoas neste planeta, negociando a sua sobrevivência a partir de uma perspectiva comercial.” – Marília Monteiro, Gerente Sênior de Portfólio – Nature Finance do Greenpeace International

“Ao longo de todo o processo do TNFD quase não houve atenção à questão “isto funcionará?”. As empresas dizerem que isso as levará a mudar seus hábitos não garante que isso acontecerá. A TNFD não se baseia em evidências e ignorou muitas das evidências de experiências anteriores sobre a razão pela qual as iniciativas lideradas por empresas falham tantas vezes.” – Cassie Dummett, Chefe da Campanha Global Witness Forests

“Queremos que os investidores e as empresas compreendam que o TNFD não é um substituto para a estratégia ou uma razão para adiar a acção. Nesta fase, não podemos dizer se o TNFD será utilizado para obscurecer ou esclarecer e, portanto, se irá ajudar ou dificultar esforços sérios para lidar com a crise da biodiversidade. É o que acontece paralelamente ao TNFD que importa ainda mais. Na Austrália, não vimos compromissos sérios das empresas ou dos investidores para reduzir os impactos na biodiversidade, não há nenhuma acção colectiva dos investidores e os grupos industriais ainda estão a realizar o equivalente em biodiversidade às campanhas de negação do clima para a política da natureza. E estamos a ver a participação da TNFD a ser usada como uma desculpa para continuar a operar como de costume em todas estas frentes.” – Tim Beshara, Gerente de Política e Estratégia, Wilderness Society Australia.

“Seria de esperar que as instituições financeiras olhassem a crise da biodiversidade directamente nos olhos e começassem a agir para eliminar as suas causas profundas, comprometendo-se a parar de financiar actividades empresariais que destroem ecossistemas intactos a nível global. Em vez disso, começam a escrever relatórios sobre os impactos da biodiversidade nos seus negócios, tudo sem qualquer envolvimento significativo das partes interessadas que mais sofrem esses impactos. Tal como acontece com a resposta das indústrias financeiras à crise climática, focada em alcançar as “emissões zero líquido até 2050″, em vez de acabar com o financiamento para combustíveis fósseis agora, perguntamo-nos quando é que as instituições financeiras começarão finalmente a agir com a urgência e a determinação necessárias”, afirmou Johan Frijns, Diretor Executivo do BankTrack

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