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SEC Recebe Pedido Para Investigar JBS

A Rainforest Action Network apresentou queixa à SEC sobre o histórico de ações ilegais e corruptas da gigante brasileira do setor de carnes

*Consulte a queixa da RAN à SEC para obter informações e referências.

Nova York – A JBS, maior empresa de proteína animal do mundo, está programando uma oferta inicial de ações  na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). A operação abrirá novas possibilidades de investimento e financiamento para uma empresa que é objeto de inúmeros relatos de conduta inaceitável. As preocupações com as práticas comerciais e a cadeia de suprimentos da empresa foram, repetidamente, bem documentadas e levantadas nos últimos 15 anos, e incluem ilegalidade, desmatamento, invasão e grilagem de terras de territórios indígenas e tradicionais, conflitos fundiários e violência contra defensores de direitos, trabalho escravo e abusos trabalhistas em sua cadeia de suprimentos, falta de rastreabilidade, corrupção e greenwashing (lavagem verde — prática enganosa em que empresas ou organizações apresentam uma imagem de responsabilidade ambiental exagerada ou falsa para melhorar sua reputação, mesmo sem adotar ações concretas em prol do meio ambiente).

Rainforest Action Network (RAN) escreveu uma carta à Security and Exchange Commission (SEC), órgão que regula o mercado de capitais nos EUA, solicitando uma investigação sobre alegações de que a JBS não opera de acordo com as normas e padrões de negócios aceitáveis. Em sua Declaração de Registro F-4 datada de 12 de julho de 2023, a JBS apresentou declarações possivelmente enganosas e omitiu informações relevantes para os investidores. No pedido de investigação protocolado, a RAN solicita que a SEC interaja com a JBS de maneira totalmente transparente de modo a permitir o tão necessário escrutínio público.

“A JBS é uma empresa conhecida, com um histórico bem documentado de práticas destrutivas e impactos negativos massivos no clima, incluindo ilegalidade, corrupção, suborno e conflito de terras com comunidades indígenas”, disse Merel van der Mark, porta-voz da RAN e coordenadora da Coalizão Florestas e Finanças. “Para cumprir seu papel de diligência prévia básica, solicitamos que a SEC conduza uma investigação completa sobre o padrão alarmante e inaceitável de conduta corporativa da JBS antes de autorizar a oferta pública de ações na NYSE.”

Essa oferta pública de ações também está sendo chamada de “listagem dupla”, pois o objetivo da empresa é ser listada tanto na bolsa de valores de São Paulo (o que ocorreu em 2007) quanto na NYSE.. A JBS já fez várias tentativas de listagem nos EUA. A tentativa de 2017 foi frustrada pelo maior escândalo de corrupção que se tem notícia, que terminou com um acordo de 3,2 bilhões de dólares e a admissão de suborno a milhares de políticos. Desde então, a JBS continuou a ser implicada em inúmeras ilegalidades, incluindo vários casos de corrupção e fixação de preços nos EUA.

Os irmãos Batista, bilionários e filhos do fundador da JBS, José Batista Sobrinho, emergirão como acionistas majoritários por meio da reestruturação proposta para consolidar sua participação nos direitos de voto de 48% para 85 a 90%. Os principais problemas — transparência, governança corporativa, influência dos acionistas e impactos negativos contínuos no clima, na biodiversidade e nos direitos humanos — permanecem.

As preocupações mencionadas no pedido protocolado pela RAN incluem:

  • A JBS não conseguiu eliminar o desmatamento ilegal, o trabalho escravo e os abusos trabalhistas e a grilagem de terras de territórios indígenas em sua cadeia de suprimentos.
  • A JBS assumiu um compromisso de grande visibilidade com a meta de zero emissões líquidas em 2021, mas estima-se que tenha aumentado suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 51% em cinco anos. Em 2021, a JBS vendeu 3,2 bilhões de dólares em ‘títulos verdes’, que estão vinculados ao seu compromisso de zero emissões líquidas. No entanto, pesquisadores independentes descobriram que a empresa não tem nenhum plano confiável de descarbonização.
  • A JBS continua envolvida em escândalos de corrupção e suborno no Brasil e nos EUA. Em 2017, os acionistas controladores da J&F Investimentos (de propriedade dos irmãos Batista) concordaram em pagar uma multa recorde de 3,2 bilhões de dólares ao governo brasileiro, colocando fim a cinco investigações sobre as extensas práticas comerciais corruptas e fraudulentas da empresa. Houve uma série de grandes acordos nos EUA em 2020, 2021 e 2022 como resultado das práticas corporativas fraudulentas e corruptas da JBS e dos irmãos Batista, incluindo práticas de corrupção no exterior, suborno e fixação de preços.

A RAN deu à JBS a oportunidade de comentar sobre as alegações; entretanto, a empresa não respondeu.

* Em 1 de setembr, a JBS protocolou o Amendment No. 1 to Form F-4