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Banks inject more than US$ 6 million in slaughterhouses that most violated environmental commitments in Pará
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Itaú, BNDES, Banco do Brasil e Safra realizaram operações de financiamento junto aos frigoríficos Ribeiro, Frigol, Fortefrigo e Masterboi, que compraram cerca de 78 mil cabeças de gado com origem em áreas com evidências de irregularidades.
Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Banco Safra financiaram pelo menos três dos frigoríficos que mais contribuíram para o desmatamento ilegal na Amazônia. Os três bancos realizaram operações de financiamento junto aos frigoríficos de 6,7 milhões de dólares, entre 2013 e 2019. Os dados são da plataforma Forests & Finance, mantida por uma coalizão internacional de ONGs da qual a Repórter Brasil faz parte e cuja nova atualização inclui informações de instituições brasileiras.
No total, os frigoríficos Ribeiro, Fortefrigo e Masterboi compraram cerca de 27 mil cabeças de gado com origem em áreas com evidências de irregularidades, segundo auditorias oficiais do Ministério Público Federal. As operações de compra e venda de gado referem-se ao ano de 2017.
A auditoria aponta que os três frigoríficos figuram entre as dez empresas que mais se desviaram dos compromissos socioambientais firmados no chamado TAC da Carne – como ficou conhecida assinatura de termos de ajustamento de conduta entre o MPF e as empresas no Pará, a partir de 2009.
O apoio financeiro
Frigorífico Ribeiro (R.E Ribeiro Soares): por meio do Programa de Sustentação de Investimento, de 2013 a 2014, o Bradesco emprestou 139 mil dólares ao frigorífico para compra de caminhões e ônibus. O Banco do Brasil, por sua vez, emprestou 1,5 milhões de dólares para itens não listados no banco de dados. Segundo dados do MPF, 20% dos animais comprados – mais de seis mil cabeças de gado – tinham origem em fazendas com evidências de irregularidades.
Fortefrigo: em 2019, recebeu 264 mil dólares do Banco do Brasil por meio da linha de crédito do Finame, linha financeira orientada para a compra de máquinas e equipamentos. Segundo dados do MPF, 11,5% dos animais comprados – mais de 14 mil cabeças de gado – tinham origem em áreas com evidências de irregularidades.
Masterboi: recebeu, de 2013 a 2016, 4,2 milhões de dólares do Itaú Unibanco para o financiamento de equipamentos, máquinas, ônibus e caminhões, além de itens não listados na plataforma. Do Banco do Brasil, recebeu, em 2013, uma quantia de 524 mil dólares para itens não listados, e do banco Safra, uma soma de 82 mil dólares. Segundo dados do MPF, 3,5% dos animais comprados – 5,5 mil cabeças de gado – tinham origem com evidências de irregularidades.
Procurados pela Repórter Brasil, O Itaú e o Banco do Brasil preferiram não comentar e somente o Bradesco retornou afirmando que utiliza critérios socioambientais abrangentes na análise de todos seus clientes. Confira a nota na íntegra.
Vale lembrar que o TAC da Carne não estende os compromissos socioambientais aos bancos envolvidos com o financiamento do setor. “Há pouca regulamentação sobre a responsabilidade das instituições financeiras no país”, afirma o procurador federal Daniel Azeredo, que liderou o processo de construção dos compromissos. “O que temos são alguns esforços judiciais para que os bancos respondam por suas decisões de quem e do que financiam”.
Abaixo, o gráfico do MPF que traduz para porcentagens a quantidade de gado de origem ilegal comprada pelos frigoríficos que se comprometeram a tomar responsabilidade pelos fornecedores que os abastecem.
Além de negativamente listados na auditoria do MPF, os frigoríficos citados nesta reportagem também protagonizaram investigações conduzidas pela Repórter Brasil. Em 2020, por exemplo, o Masterboi abasteceu uma de suas plantas com gado da fazenda Ângelo no Tocantins, embargada desde 2008 pelo Ibama.
A área foi proibida de produzir pelo órgão de fiscalização federal por conta do desmatamento ilegal para criação de uma pastagem. A origem do boi, no entanto, era fraudada. Os animais tinham no registro o Cadastro Ambiental Rural (CAR) de uma propriedade “limpa”, sem embargos.
Todos os citados foram procurados pela Repórter Brasil. Tanto o Frigorífico Ribeiro quanto o Fortefrigo não responderam nossas perguntas até a data desta publicação. A Masterboi, em nota, afirmou que segue rígidas práticas de monitoramento de seus fornecedores em concordância com o MPF, e não possui nenhuma “incidência de infrações” atualmente. Confira a nota na íntegra.
O TAC
O TAC da Carne começou a ser assinado pelas empresas há 12 anos no Pará, como uma forma de reduzir os índices alarmantes da destruição da floresta amazônica. Estudos apontam que a expansão da pecuária é responsável por 65% de todo o desmatamento na Amazônia brasileira.
Fiscalizar esse elo da cadeia produtiva foi estratégico, afirma Rafael da Silva Rocha, procurador federal que acompanha de perto o TAC. “São milhares de fazendas e focos de desmatamento, mas o gado invariavelmente passa por um frigorífico, e aí conseguimos criar alguma pressão”, explica.
Passada mais de uma década, o Pará acumula quase metade do desmatamento registrado na Amazônia (5.192 km²) no período de um ano, entre agosto de 2019 e julho de 2020.
Problemas sociais somam-se aos ambientais. Os resultados das últimas auditorias do Ministério Público Federal publicados em 2019 mostram que os frigoríficos ainda compram gado de propriedades flagradas com trabalho escravo, fazendas embargadas por órgãos de fiscalização e com boiadas pastando dentro de territórios indígenas, quilombolas e áreas de conservação.
Fora as 27 mil cabeças de gado identificadas com irregularidades em sua origem pelo MPF, Daniel Azeredo, procurador federal e parte do grupo de trabalho Amazônia Legal, alerta sobre esquemas de fraude que fazendeiros utilizam para driblar o TAC.
Quando o boi é criado em fazendas embargadas ou incluídas na “lista suja” do trabalho escravo, é comum registrar o gado como pertencente a outra fazenda. Outro método empregado por fazendeiros que escapa da fiscalização é a cadeia de fornecimento indireto “o gado é criado em uma fazenda irregular e enviado para fazendas ‘limpas’ para a engorda antes da venda aos frigoríficos”, explica Azeredo.
Nota da redação: esta matéria foi atualizada no dia 9 de junho para corrigir referências ao frigorífico Frigol. A empresa contatou a Repórter Brasil após a publicação para informar que a referência a “Finame” em seu relatório financeiro anual não dizia respeito à linha de crédito do BNDES, como considerado inicialmente pela plataforma Forests & Finance, mas a outro tipo de financiamento internacional, de nome similar. Os gestores da plataforma revisaram o dado e fizeram a correção. A Repórter Brasil removeu menções a Frigol do texto. O frigorífico havia sido contatado pela Repórter Brasil durante a produção da reportagem, mas não respondeu na ocasião. Confira nota enviada pela empresa na íntegra.